O que faz, especialmente, o psicoterapeuta centrado na pessoa?

Rodrigo Rezende

Outro dia, um taxista me perguntou pouco antes da minha saída de seu veículo: “O que faz o psicólogo?”. Eu, surpreendido com a inesperada e repentina pergunta, fiquei gaguejando uma tentativa de resposta simples e rápida, até que saiu de improviso: “Ele tenta entender a razão do outro”. Mais tarde, acabei me dando conta de que essa resposta seria mais apropriada para a pergunta: “O que faz, especialmente, o Psicoterapeuta Centrado na Pessoa?”.

Agora, desenvolvendo um pouco mais aquela resposta, eu diria que muitas pessoas tentam demonstrar, o tempo todo, que estão certas em relação a tudo que pensam e fazem e, à medida que elas convencem mais pessoas, mais convencem a si mesmos e se satisfazem. Mais que isso, cotidianamente, essas pessoas tentam provar que enquanto estão certas, as outras estão erradas e, quando são contestadas, frustram-se e se enfurecem. Assim, muitas pessoas vivem em conflito umas com as outras, pois quando cada um entende que está unicamente certo, e os restantes errados, só pode haver sentimentos generalizados de frustração e raiva.

Por outro lado, o Psicoterapeuta Centrado na Pessoa procura atuar de uma forma quase que inversa ao padrão acima descrito. Esse psicoterapeuta procura abster-se da tendência humana de querer convencer que suas razões são melhores do que as dos outros, que, nesse caso, são os clientes. Em vez disso, ele procura compreender as razões e os pontos de vistas dos clientes e, ainda, aceitar os clientes assim como eles se apresentam, sem lhes impor condições. Esse psicoterapeuta procura deixar de lado as suas próprias convicções para aceitar as dos clientes e procura demonstrar a eles que compreende as razões deles, quase tão perfeitamente quanto eles próprios. Então, essa forma de atuar pode promover nos clientes deslocamentos da posição costumeira de defesa e ataque para uma posição de abertura emocional e cognitiva, o que acabaria por favorecer um processo de evolução de sentimentos que contribuiria para o progresso pessoal. Ou seja, à medida que os clientes ficam libertos de forças reacionárias de autoproteção e ataque, abrem-se naturalmente para novos sentimentos, compreensões e racionalidades. Assim, ficam facilitados avanços de concepções na consciência e, consequentemente, mudanças comportamentais favoráveis.

Em outras palavras, o que faz especialmente o Psicoterapeuta Centrado na Pessoa é procurar oferecer condições para que seus clientes abdiquem de defender suas convicções e de atacar as dos outros para que seja aberto espaço para a vivência de novas percepções e sentimentos. Assim, outras e novas compreensões podem ser delineadas na consciência, possibilitando mudanças de atitudes e comportamentais. Isso pode ocorrer por consequência dos sentimentos provenientes das opiniões antes defendidas com unhas e dentes cederem espaço para novos sentimentos e compreensões, criando oportunidades para que autocríticas sejam desenvolvidas pelos próprios clientes. Então, uma das principais características do Psicoterapeuta Centrado na Pessoa é a ênfase na promoção de um tipo de relacionamento humano, de certa forma incomum, que um (o psicoterapeuta) procura não contestar os argumentos do outro (o cliente) e sim aceita-los como o ponto de vista do outro. Dessa forma, os clientes se sentem respeitados e aceitos como pessoas incondicionalmente, ou seja, como pessoas respeitáveis independentemente de seus pontos de vista e convicções. Essa dinâmica de relacionamento humano é incomum, extraordinária e terapêutica, e sua promoção é característica especialmente do Psicoterapeuta Centrado na Pessoa.