---

AUTO-ORGANIZAÇÃO E COMPLEXIDADE: EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO ROGERIANO
João Hipólito
Editora Ediual- Lisboa/2011

---

A leitura desta obra permitiu-nos fazer uma viagem compreensiva do percurso evolutivo de Carl Rogers, graças à descrição cuidadosa com que o autor nos presenteou, salientando algumas das experiências e das escolhas que tiveram forte impacto na determinação pessoal e na construção do seu fluxo conceptual.

Uma das ideias chaves que retivemos, e que vai na contracorrente dos pares da época interessados na intervenção psicológica, é a afirmação de que a pessoa é uma totalidade, perspectivada na senda das ideias de filósofos como Aristóteles e São Tomás de Aquino, sendo a aproximação à essência individual potenciada pela compreensão subjetiva do que a pessoa expressa como experiência. Este pressuposto terá levado Rogers a estudar, a investigar e a teorizar sobre os efeitos do tipo e da qualidade de relação nos processos psicoterapêuticos.

Em Portugal e na atualidade, João Hipólito tem sido um pilar fundamental da expansão do pensamento rogeriano. Este, expresso nos inúmeros escritos que acompanham a evolução da formulação teórica de Rogers, está corporizado nos primeiros capítulos desta obra.

Tomando como ponto de partida uma perspectiva geograficamente delimitada, isto é a comunidade rogeriana portuguesa, o autor descreve-nos os contributos incontornáveis de Rogers para as Ciências do Homem e a forma como as suas ideias, pelo seu carácter humanamente complexo, se propagaram do campo da psicologia e da psicoterapia a todo o universo de ação e compreensão do Ser Humano.

Esta difusão ao nível da conceptualização teórica reflete-se num progressivo aprofundamento da prática da psicoterapia e de outras formas de intervenção que são abordadas pelo autor, nos capítulos seguintes, estando patentes, para além de uma atitude de continuidade e de não desvirtuamento da teoria desenvolvida por Rogers, os apports inovadores de aplicação e compreensão das relações humanas 164 Auto-organização e Complexidade: Evolução e Desenvolvimento do Pensamento Rogeriano introduzidos pelo autor. As aplicações da Terapia Centrada no Cliente em setting de psicodrama, de relaxação, de terapia familiar ou a abordagem compreensiva da problemática da toxicodependência são exemplos de contributos sérios e solidamente alicerçados na obra de Rogers, constituindo simultaneamente um auxílio a todos os técnicos, formandos ou profissionais que procuram aprofundar um “saber-fazer” ao nível da relação de ajuda. Finalmente, o último capítulo deste livro condensa o valor do incontornável legado de João Hipólito para a Abordagem Centrada na Pessoa, ao longo de quatro décadas.

A sua proposta inovadora e holística de complexificação da teoria do desenvolvimento (psicoafetivo) da personalidade de Rogers apresenta-se como um válido instrumento de investigação e compreensão da criança e do adulto, numa perspectiva humanista.

Apesar de uma leitura superficial das últimas palavras da obra nos fazerem emergir ao pensamento uma questão, “isto acaba assim?”, esta forma escolhida pelo autor de encerrar o livro, traduz o âmago e a coerência do seu pensamento, sem desvirtuar a filosofia da conceptualização de Rogers – a ideia de que o Homem, enquanto elemento da Natureza, se atualiza num processo de complexificação que é universal, numa sintonia subjetivamente adaptativa com o holos que o rodeia e que se torna parte de Si, impondo-se como circunstância incontornável.

Rute Brites & Odete Nunes