A Abordagem Centrada na Pessoa

“Se eu deixar de interferir nas pessoas,
elas se encarregam de si mesmas.
Se eu deixar de comandar as pessoas,
elas se comportam por si mesmas.
Se eu deixar de pregar as pessoas,
elas se aperfeiçoam por si mesmas.
Se eu deixar de me impor as pessoas,
elas se tornam elas mesmas” 

LAO-TSÉ
(Citação de Carl Rogers resumindo o princípio da Abordagem Centrada na Pessoa)


Texto de Marcos Alberto da Silva Pinto escrito em 2001

A Abordagem Centrada na Pessoa vai além das psicoterapias, podendo ser utilizada em todas as relações de ajuda e nas relações humanas de uma forma geral.

É uma abordagem que se diferencia das demais sob diversos aspectos, mas sobretudo por não haver técnica. Acreditamos que a melhor maneira de se tentar ajudar alguém é confiar no potencial da pessoa e na sua condição natural de pensar, sentir, buscar e se direcionar no caminho de suas necessidades. É a partir desta visão, que a ACP se baseia para tentar facilitar condições ideais à pessoa, para que ela possa buscar em si as suas próprias respostas.

Pela visão centrada na pessoa o outro precisa apenas de condições especiais para rever a maneira como ele está se desenvolvendo e para isto o psicoterapeuta (educador, etc…) busca criar essas condições para que a pessoa possa perceber em si própria o seu caminho e as suas respostas.

“Todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a favorecer o seu enriquecimento”. (ROGERS, 1959).

É a partir deste pressuposto, chamado de “Tendência de atualização” que existem alguns princípios que acreditamos serem facilitadores na relação de ajuda.

Tendência de atualização

Toda pessoa possui uma capacidade natural de se auto dirigir no sentido de buscar suprir as suas necessidades. Existe em todo organismo uma tendência natural de evolução, um movimento natural de atualização a todo o momento.

De alguma maneira, por diversos motivos, todos nós somos influenciados por uma série de formas de ser, impostas, que fazem com que, muitas vezes nos distanciemos daquilo que somos ou sentimos.

Mesmo assim, a tendência atualizante continua o seu movimento, no intuito de nos levar adiante, mas em função de nos distanciarmos da gente mesmo, acabamos muitas vezes por caminhar de uma maneira distorcida daquilo que realmente seria o melhor pra gente.

Quando são proporcionadas condições facilitadoras para que a pessoa se auto dirija, ela tende a ampliar o seu repertório interno e a buscar novas formas de se atualizar ganhando maiores condições de encontrar uma maior harmonia interna e em conseqüência, uma maior harmonia com o seu meio.

Crendo no potencial humano através da tendência atualizante, a Abordagem Centrada na Pessoa entende que a melhor maneira de ajudar o outro é tentar criar condições ideais para que este movimento aconteça levando em consideração novas perspectivas e possibilidades.

Cremos que há algumas condições facilitadoras básicas para que isto aconteça.

Essas condições são:

1 – Compreensão empática

Em primeiro lugar é imprescindível que tanto o facilitador quanto o cliente sintam-se bem e verdadeiramente disponíveis nessa relação.

Depois, o facilitador deverá ser capaz de tentar enxergar a pessoa buscando se aproximar da visão dela, tendo desta forma, provavelmente, maior disponibilidade interna em se livrar dos seus princípios e valores e de compreender melhor o outro sob a perspectiva do outro, seus motivos, seus medos e sentimentos e consequentemente mais condições de não julgar ou direcionar a relação de ajuda.

2 – Congruência

É imprescindível que o facilitador busque ser autêntico quanto aos seus sentimentos e percepções em relação a pessoa que está buscando ajuda.

É importante que tudo que o facilitador sinta de forma persistente na relação seja dito. Com empatia, cuidado, respeito, mas principalmente com autenticidade.

Para a Abordagem Centrada na Pessoa, é importante que o facilitador diga o que sente, mais é claro que como sendo a sua verdade, e não como verdade do outro.

Numa relação de ajuda onde o facilitador assume os seus sentimentos como seus, além de dar ao outro o direito de pensar a respeito, a tendência é que o outro assuma os seus sentimentos também, livre de ameaças, apoiado na aceitação, na autenticidade e no acolhimento.

3 – Consideração Incondicional Positiva

É a capacidade do facilitador em aceitar o outro sempre de maneira positiva, entendendo que o outro à sua maneira está sempre, no fundo procurando se sentir bem e se encontrar.

Se o facilitador consegue de fato ser empático e tem a convicção de que o outro busca sempre as alternativas que entende como melhores dentro do seu repertório interno, através da tendência atualizante, fica mais fácil aceitar à pessoa, mesmo não entendendo ou não concordando. Aceitar não significa concordar.

Em um ambiente onde a pessoa sinta-se verdadeiramente aceita e acolhida, livre de ameaças, ela tende a ser ela mesma e a entrar em contato consigo própria para buscar aquilo que julga importante para o seu desenvolvimento pessoal.

Psicoterapeuta centrado na pessoa

Assim como em tudo na Abordagem Centrada na Pessoa, é valorizada além da aceitação e do acolhimento a autenticidade, ou seja, ou o psicoterapeuta dentro da sua autenticidade partilha dos princípios centrados na pessoa, ou não.

Não existe meio termo.

Isso não significa que um psicoterapeuta centrado na pessoa deverá proceder como Rogers procedia, a Abordagem Centrada na Pessoa tem uma proposta de ajuda onde, desde que, em sua maneira de ser o psicoterapeuta preserve a empatia, a congruência, a aceitação incondicional, creia no potencial do outro através da tendência atualizante, rejeite a manipulação, a interpretação e o condicionamento, ele estará exercendo ajuda ao cliente de maneira centrada na pessoa.

Para a Abordagem Centrada na Pessoa, o conhecimento do psicoterapeuta tem importância, mas a sabedoria tem um peso especial na relação de ajuda. Isso significa que, muitas vezes o psicoterapeuta através de seu conhecimento cria uma relação vertical, entre si e a pessoa que busca ajuda e naturalmente construa uma barreira perdendo a disponibilidade real em ouvir o outro desprovido de técnica.

Para a Abordagem Centrada na Pessoa ou o psicoterapeuta vê sentido nesses pressupostos e nesse jeito de ser, ou não haverá condições de existir ajuda dentro da postura centrada na pessoa, pois caso o psicoterapeuta se utilize das posturas citadas, sem que isso faça sentido para ele, naturalmente ele estará se apropriando delas como técnica e a ACP é a não técnica. É um jeito de ser permeado pela relação autentica por parte do facilitador.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Rosenberg, Rachel L. (1988). Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa. São Paulo: E.P.U.
Rogers, Carl R. (1997). Psicoterapia e Consulta Psicológica. São Paulo: Martins Fontes.
Rogers, Carl R. (1992). Terapia Centrada no Cliente. São Paulo: Martins Fontes.
Rogers, Carl R. & Wood, John K. (1978). Teoria Centrada no Cliente: Carl Rogers. Em A. Burton (Org.), Teorias Operacionais da Personalidade. Rio de Janeiro: Imago.